Utilizando Swing com JPA/Hibernate

Este tutorial poderia ser uma segunda parte do tutorial anterior Utilizando Swing com Banco de Dados, a classe de interface com usuário é 99% a mesma, a classe controller idem.

O que está diferente aqui é que utilizaremos o framework Hibernate, para a persistência com banco de dados, com JPA (Java Persistence API).

Utilizaremos desta vez o banco de dados HSQLDB no modo standalone, mas quem preferir pode continuar utilizando o MySql como no tutorial anterior, é só utilizar as mesmas configurações de url, drive, usuário e senha, quando for necessário utilizar.

O padrão MVC também será seguido como no tutorial anterior, do link acima, então caso não tenha lido o tutorial anterior, seria importante ler a respeito do que é o padrão MVC.

1. Arquivos necessários

Para o desenvolvimento deste tutorial serão necessárias algumas bibliotecas referentes ao Hibernate e a JPA, e mais algumas que necessitam ser utilizadas como algumas dependências. E também é claro do Driver JDBC do HSQLDB ou do MySql.

Veja as bibliotecas necessárias na figura 1.

Figura 1

Figura 1 – Bibliotecas

Montei um pacote com todas as bibliotecas e as disponibilizei para download aqui.

2. Java Persistence API e Hibernate

JPA é uma especificação padrão do Java para persistência de dados. A JPA define um meio de mapeamento objeto-relacional para objetos Java, os chamados POJOs, denominados beans de entidade.

Diversos frameworks de mapeamento objeto/relacional, como o Hibernate, implementam a JPA gerenciando o desenvolvimento de entidades do Modelo Relacional usando a plataforma nativa Java SE e Java EE.

O Hibernate é um framework para mapeamento objeto-relacional, totalmente escrito em Java. O principal objetivo do Hibernate é diminuir a complexidade entre os programas escritos em Java, baseando-se no modelo orientado objeto.

Quando utilizamos o HIbernate, deixamos de trabalhar com tabelas e colunas, e passamos a trabalhar com objetos. Quem já desenvolveu em Java com banco de dados e utilizando ResultSet e PreparedStatement para criar consultas e outras ações com o banco de dados, trabalhou diretamente com tabelas e colunas. Utilizando o Hibernate, as tabelas e colunas são mapeadas por mapeamentos XML ou anotações, e a partir daí trabalhamos apenas com objetos, o que facilita em muito o desenvolvimento.

3. Arquivo persistence.xml

Quando utilizamos JPA, precisamos utilizar um arquivo que contem algumas configurações importantes para a conexão com o banco de dados através do Hibernate. Este arquivo deve ser chamado de persistence.xml e estar dentro de um diretório chamado META-INF no classpath da aplicação, ou seja, no mesmo nível do pacote br, o primeiro pacote dos fontes, veja na figura 2.

Figura 2

Figura 2 – Projeto

Listagem 1. Arquivo persistence.xml
<?xml version="1.0" encoding="UTF-8"?>
<persistence xmlns="http://java.sun.com/xml/ns/persistence" version="2.0">

    <persistence-unit name="agenda" transaction-type="RESOURCE_LOCAL">
        <class>br.mb.tutorialHibernateJpa.model.Contato</class>
        <properties>
            <property name="hibernate.connection.url" value="jdbc:hsqldb:file:./db/agenda"/>
            <property name="hibernate.connection.driver_class" value="org.hsqldb.jdbcDriver"/>
            <property name="hibernate.connection.username" value="SA"/>
            <property name="hibernate.connection.password" value=""/>
            <property name="hibernate.dialect" value="org.hibernate.dialect.HSQLDialect"/>
            <property name="hibernate.show_sql" value="true"/>
            <property name="hibernate.format_sql" value="true"/>
            <property name="hibernate.hbm2ddl.auto" value="update"/>
        </properties>
    </persistence-unit>

</persistence>

A tag persistence-unit possui dois elementos importantes, o name que recebe um nome para identificar as configurações e o transaction-type que indica se aplicação será com ou sem container (servidor web).

Precisamos também indicar neste arquivo onde se encontra o mapeamento, para isso, usamos a tag class e nela indicamos a classe que contém as anotações referentes a tabela Contatos. As demais tags, filhas de , são referentes as configurações do Hibernate, como as configurações para conexão e para exibir alguns logs no console dos SQLs executados.

4. Tabela contatos

Desta vez não iremos precisar de script para criar a tabela Contatos no banco de dados, a JPA nos fornece uma maneira simples para isso. Basta a criação de um método que através dos mapeamentos as tabelas são geradas. Para criar o banco de dados basta executar a classe principal GeraBanco, conforme a listagem 2.

Listagem 2. Gerando o banco de dados.
package br.mb.tutorialHibernateJpa.agenda;

import org.hibernate.cfg.Configuration;
import org.hibernate.ejb.Ejb3Configuration;
import org.hibernate.tool.hbm2ddl.SchemaExport;

public class GeraBanco {
    public static void main(String[] args) {
        Ejb3Configuration cfg = new Ejb3Configuration();

        //agenda eh o nome do persistence-unit no persistence.xml.
        cfg.configure("agenda", null);

        Configuration hbmcfg = cfg.getHibernateConfiguration();

        SchemaExport schemaExport = new SchemaExport(hbmcfg);
        schemaExport.create(true, true);
    }
}

Ao gerar o banco de dados HSQLDB, será criada uma pasta chamada “db” e dentro dela estarão os arquivos do banco de dados. Esta pasta será gerada um nível acima do pacote dos arquivos fontes da aplicação, ou seja, no mesmo nível em que você deve ter o pacote “lib”, veja na figura 2.

Quem utilizar um banco de dados no modo servidor, como o MySql ou outros, algumas vezes será necessário criar o banco de dados manualmente no gerenciador, para então rodar a classe GeraBanco, que ela irá criar as tabelas.

5. Classe de Conexão

Trabalhando com JPA/Hibernate, teremos uma classe de conexão diferente do que temos quando criamos uma conexão direta por JDBC. No caso da JPA devemos criar uma classe conforme a listagem 3. Essa classe vai ler as configurações do arquivo persistence.xml e configurar uma “fabrica de conexões” para o sistema. Sempre que for necessária uma conexão, faremos uma chamada ao método estático getEntityManager().

Listagem 3. Classe EntityManagerUtil
package br.mb.tutorialHibernateJpa.dao;

import javax.persistence.EntityManager;
import javax.persistence.EntityManagerFactory;
import javax.persistence.Persistence;

public class EntityManagerUtil {
	private static EntityManagerFactory emf;

	public static EntityManager getEntityManager() {
		 if (emf == null){
			emf = Persistence.createEntityManagerFactory("agenda");
		 }
		 return emf.createEntityManager();
	}
}

6. Classe GenericDao

Vamos criar uma classe genérica para os métodos insert, update e delete, e algumas consultas que podem ser padrão para várias entidades, veja na listagem 4.

Listagem 4. Classe GenericDao
package br.mb.tutorialHibernateJpa.dao;

import org.hibernate.Session;
import org.hibernate.criterion.Restrictions;

import javax.persistence.EntityManager;
import javax.persistence.EntityTransaction;
import javax.persistence.PersistenceContext;
import java.io.Serializable;
import java.lang.reflect.ParameterizedType;
import java.util.List;

public class GenericDao {

    @PersistenceContext(unitName = "agenda")
    private final EntityManager entityManager;
    private final Class persistentClass;

    public GenericDao() {
        this.entityManager = EntityManagerUtil.getEntityManager();
        this.persistentClass = (Class) ((ParameterizedType) 
			getClass().getGenericSuperclass()).getActualTypeArguments()[0];
    }

    public EntityManager getEntityManager() {
        return entityManager;
    }

    protected void save(T entity) {
        EntityTransaction tx = getEntityManager().getTransaction();

        try {
            tx.begin();
            getEntityManager().persist(entity);
            tx.commit();
        } catch (Throwable t) {
            t.printStackTrace();
            tx.rollback();
        } finally {
            close();
        }
    }

    protected void update(T entity) {
        EntityTransaction tx = getEntityManager().getTransaction();

        try {
            tx.begin();
            getEntityManager().merge(entity);
            tx.commit();
        } catch (Throwable t) {
            t.printStackTrace();
            tx.rollback();
        } finally {
            close();
        }

    }

    protected void delete(T entity) {
        EntityTransaction tx = getEntityManager().getTransaction();

        try {
            tx.begin();
            getEntityManager().remove(entity);
            tx.commit();
        } catch (Throwable t) {
            t.printStackTrace();
            tx.rollback();
        } finally {
            close();
        }
    }

    public List findAll() throws Exception {
        Session session = (Session) getEntityManager().getDelegate();
        return session.createCriteria(persistentClass).list();
    }

    public T findByName(String nome) {
        Session session = (Session) getEntityManager().getDelegate();
        return (T) session.createCriteria(persistentClass)
			.add(Restrictions.eq("nome", nome).ignoreCase()).uniqueResult();
    }

    public T findById(long id) {
        Session session = (Session) getEntityManager().getDelegate();
        return (T) session.createCriteria(persistentClass)
			.add(Restrictions.eq("id", id)).uniqueResult();
    }

    private void close() {
        if (getEntityManager().isOpen()) {
            getEntityManager().close();
        }
        shutdown();
    }

    private void shutdown() {
        EntityManager em = EntityManagerUtil.getEntityManager();
        EntityTransaction tx = em.getTransaction();
        tx.begin();
        em.createNativeQuery("SHUTDOWN").executeUpdate();
        em.close();
    }
}

A anotação @PersistenteContex() indica qual classe será responsável pela persistência dos dados. A variável persistentClass é utilizada para termos acesso a entidade que está sendo executada no momento. Utilizamos o tipo genérico na classe, e é através do tipo genérico que obtemos a entidade para utilizá-la nas consultas, veremos mais a frente.

No construtor da classe criamos um objeto EntityManager, que nos dará acesso ao métodos necessários, e obtemos a entidade que está utilizando a classe no momento.

Nos métodos save()update() e delete(), precisamos criar uma transação, abrir está transação e então executar o que queremos fazer. No caso do método save(), utilizamos o persist(), que recebe como par metro um objeto e o framework executa um insert através dele. A grande vantagem é que não precisamos nos preocupar com o SQL de insert, update ou delete, só passamos o objeto e o framework faz o resto.

Depois da execução, se tudo ocorrer bem é executado um commit na transação do banco de dados e então um close é chamado para fechar a comunicação com o banco de dados.

Uma observação para quem não está utilizando o HSQLDB, o método shutdown() não deve ser utilizado, este método é utilizado apenas no HSQLDB. No artigo JDBC com Banco de Dados Standalone eu falo sobre isso.

Nas consultas foi utilizada a API Criteria, uma forma diferente de fazer o “select” quando utilizamos orientação objetos e não objetos relacionais. Outra forma que pode ser utilizada é o HQL, um dialeto SQL para o Hibernate, uma consulta muito parecida com o SQL, porém se trabalha com objetos e seus atributos e não com tabelas e colunas.

Quando utilizamos Criteria, precisamos indicar qual a entidade que fará a consulta, por isso, utilizamos a variável persistentClass, para passarmos para o método qual entidade está sendo executada no momento da consulta. Seria como se ele estivesse passando por par metro algo como isto: Contato.class

7. Classe Contato

Nossa classe Contato terá como atributos os campos da tabela Contatos, mapeados em forma de anotações. Através das anotações podemos passar todas as informações que uma coluna teria, como o tipo de dado, tamanho, nome, entre outros.

Listagem 5. Classe Contato
package br.mb.tutorialHibernateJpa.model;

import java.sql.Date;
import javax.persistence.*;
import java.io.Serializable;

@Entity
@Table(name = "CONTATOS")
public class Contato implements Serializable {
    private static final long serialVersionUID = 1L;

    @Id
    @GeneratedValue(strategy = GenerationType.IDENTITY)
    @Column(name = "ID_CONTATO")
    private Long id;
    @Column(name = "NOME")
    private String nome;
    @Column(name = "APELIDO")
    private String apelido;
    @Temporal(TemporalType.DATE)
    @Column(name = "DATA_NASCIMENTO")
    private Date dtNascimento;
    //gere os métodos getters and setters
}

8. Classe ContatoDao

Criamos a classe GenericDao para ser herdadas pelos demais DAO’s, assim, vamos agora criar a classe ContatoDao, onde estarão os métodos mais específicos da classe. Veja na listagem 6.

Listagem 6. Classe ContatoDao
package br.mb.tutorialHibernateJpa.dao;

import br.mb.tutorialHibernateJpa.model.Contato;

public class ContatoDao extends GenericDao {

    public void salvar(Contato contato) {
        save(contato);
    }

    public void alterar(Contato contato) {
        update(contato);
    }

    public void excluir(long id) {
        Contato c = findById(id);
        delete(c);
    }

}

Veja que utilizamos herança nesta classe, herdando os métodos criados na classe GenericDao. Nossos métodos salvar()alterar() e excluir() não possuem mais a criação do SQL que será executado no banco de dados, como no artigo anterior, e sim uma chamada ao método da classe GenericDao e lá os métodos do EntityManager farão o trabalho.

9. Classe ContatoController

Pouquíssimas alterações serão feitas na classe controller em relação a classe controller do artigo anterior. Apenas foram alterados o nome do pacote do projeto, as exceções que antes eram SQLException para Exception e no método listaContatos() o retorno foi alterado de dao.findContatos() para dao.findAll(), já que agora temos um método genérico e não exclusivo para contatos.

Essa é uma das vantagens do padrão MVC, nós podemos modificar parte do projeto sem que influencie drasticamente em outros pontos dele.

Listagem 7. Classe ContatoController
package br.mb.tutorialHibernateJpa.controller;

import br.mb.tutorialHibernateJpa.dao.ContatoDao;
import br.mb.tutorialHibernateJpa.model.Contato;

import javax.swing.*;
import java.sql.Date;
import java.text.DateFormat;
import java.text.ParseException;
import java.text.SimpleDateFormat;
import java.util.List;

public class ContatoController {

    private Date formatarData(String data) throws ParseException {
        DateFormat formatter = new SimpleDateFormat("dd/MM/yyyy");
        return new Date( formatter.parse(data).getTime() );
    }

    public void salvar(String nome, String apelido, String dtNascimento) throws Exception {
        Contato contato = new Contato();
        contato.setNome(nome);
        contato.setApelido(apelido);
        contato.setDtNascimento(formatarData(dtNascimento));

        new ContatoDao().salvar(contato);
    }

    public void alterar(long id, String nome, String apelido, String dtNascimento) throws Exception {
        Contato contato = new Contato();
        contato.setId(id);
        contato.setNome(nome);
        contato.setApelido(apelido);
        contato.setDtNascimento(formatarData(dtNascimento));

        new ContatoDao().alterar(contato);
    }

    public List listaContatos() {
        ContatoDao dao = new ContatoDao();
        try {
            return dao.findAll();
        } catch (SQLException e) {
            JOptionPane.showMessageDialog(null, "Problemas ao localizar contaton" + e.getLocalizedMessage());
        }
        return null;
    }

    public void excluir(long id) throws Exception {
        new ContatoDao().excluir(id);
    }

    public Contato buscaContatoPorNome(String nome) throws Exception {
        ContatoDao dao = new ContatoDao();
        return dao.findByName(nome);
    }
}

9. Classe ContatoFrame

A interface continua a mesma, uma interface como a da figura 3.

Figura 3 - Interface Contatos

Figura 3 – Interface Contatos

A classe ContatoFrame sofreu alterações mínimas, que foram apenas, alterar as exceções SQLException por exceções do tipo Exception. Faça essa alteração e nos casos dos métodos que tenham dois tipos de exceções, deixe a Exception no último catch{}.

Essa classe não foi postada no artigo, mas você pode pegá-la no tutorial anterior, acessando Utilizando Swing com Banco de Dados, e é claro, não se esqueça de alterar o nome do pacote e dos imports de ContatoController e Contato.

Conclusão

Este tutorial demonstrou como configurar e criar um projeto utilizando JPA com Hibernate. Fazendo uma comparação com o tutorial “Utilizando Swing com Banco de Dados”, onde utilizamos conexão direta com JDBC e utilizávamos PreparedStatement e ResultSet, e os SQLs para consultas e demais métodos com banco de dados, o framework Hibernate nos facilita muito nesse ponto.

Também podemos comparar como é válido separar as camadas da aplicação utilizando o padrão MVC, assim, facilita muito a manutenção dos códigos.

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Ballem

Marcio Ballem é bacharel em Sistemas de Informação pelo Centro Universitário Franciscano em Santa Maria/RS. Tem experiência com desenvolvimento Delphi e Java em projetos para gestão pública e acadêmica. Possui certificação em Java, OCJP 6.

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